quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Onde toda beleza do mundo se esconde


Por mais que esfregasse, nada tirava de seu rosto o já desbotado sorriso. Ia de orelha a orelha apesar de seus lábios não possuírem mais elasticidade nenhuma. O puseram em seu rosto há no mínimo décadas, e ele nunca ousara tirá-lo. Tornara-se escravo da alegria. Ou da alegoria talvez.
Levantara sua tenda em diversos lugares, a procura de algo que tornasse útil a fantasia que carregava com tamanho pesar. Como podia ele, que nem a si mesmo alegrava, fazer sorrir qualquer alma?
Andava tão cansado de suas vidas, de suas histórias e canções, que por vezes trancava tudo dentro de seu coração e o esquecia em uma ou outra ruazinha. Normalmente voltava para buscar, afinal, eram sua única bagagem. Mas com o passar do tempo, seus sentidos começaram a lhe pregar peças, e acabava por esquecer-se onde pusera sua vida.
A única coisa que ainda iluminava seu semblante era o riso dos “pequenos”, fossem eles jovens ou velhos.  Banqueteava-se na gargalhada daqueles que não tinham motivos para sorrir além do próprio coração batendo.
Amava profundamente a Deus, e apesar de nunca ter tido muito na vida, sempre Lhe fora grato. E, a cada dia que se findava com o adeus do sol, ajoelhava-se em plena humildade e amor, e acariciava o céu como um filho que volta para casa.  

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Existe um grande sol, batendo nas grandes pessoas.


Tô com saudade dos teus cabelos cumpridos em volta da tua cabeça, assim como vários devaneios repletos de inocência.
To com saudade das noites em claro tentando desvendar os mistérios que dançavam ao nosso redor, e que rindo cantavam nossas cantigas de ninar.
Cruas verdades. Risonhas centelhas de mentira.

Saudade de cantar poetas decaídos, de sentir saudades de tempos longínquos e inexistentes.
Saudade de palavras e letras que hoje me negam seu sabor, e sua cor que, apesar de muito olhada  já não desbota, se torna sagrada.
Sinto saudade do concreto que amávamos como sendo mágico.

*** 

Paixão não preenche, mas engana o estomago.
Cor não dá vida, mas reluz em meio às trevas.
Luz não se segura, mas se aumenta.
Vermelho não é minha cor preferida, mas serve.  

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Tem pena d'eu


Sentia saudades de seus frutos. De seus filhos pródigos, que em verdade, te digo que nada lhe davam além de temor.
Sentia falta do ar em demasia, que sufocante, acariciava seu peito.
Corria, centímetros e centímetros, e em sôfrego desespero acabava sempre por cair, sem alcançar nem mesmo o menor de seus pequeninos. Sem conseguir alçar voo, sentava-se sobre seu próprio caos e debulhava-se em lágrimas.
E no meio desse desespero, esquecia-se se já era homem ou menino, perdia-se em devaneios tão tolos quanto lisonjeiros.
Encolhia-se até não mais parecer gente, na esperança de assim a terra lhe engolir e dele, algo de belo nascer, uma rosa talvez, qualquer coisa melhor do que fora e dera sua vida inteira. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

695


Olhos risonhos.
Observam
Pequeno pedaço de céu.
Desafiou o chão, e em cima dele dançava.
Flutuava.
Alegre como uma película de 1920.
Como Corina , me encantas.
Como artista me deténs
Diante de teu tamanho,
Meu tabernáculo torna-se quase alado.
Olhos tristonhos despedem-se.
Carregam o peso de lagunas de doce pesar.
Vou m’embora,
De ti carrego o frescor, o amor que de ti viverei em meu âmago. 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Moça


Ponderai em vosso peito – que agora carrega o sereno cinza celeste – o dia que jaz calmo sob vossos pés.
Carregais flores plantadas por damas vestidas de negro, cansadas da viuvez, fartas de poesias de amor, quando tudo que tem são saudades.
Dançaram livres em outras épocas os vossos votos. Rodopiavam arraigados a vossos pés, em vossos braços a salvo.  Eram tempos de chuva, de nutrir os jovens e renovar os velhos. Eram tempos de abraços, e beijos e calores maiores do que o de um só ser. Eram tempos de grandes alegrias e pesares. Eram todas as coisas por inteiro, todas as faces coradas de tanta luz e tanto sentimento.
Era época de ciganos, de circos e fantasias. De magia, efêmera, mas doce. Repentina, mas inspiradora.
Hoje, porém, poucos de vós ainda respiram sem que seja em sintonia, sem que leve aos pulmões o ar de vosso vizinho  Hoje poucos restaram. Sobreviveram ao desamor, a alegria que não é continua, ao rosto que envelhece, ao cântico que perde a voz.
Hoje, quem canta canções de redenção são os jovens, enquanto aos poucos, os velhos são plantados como raras sementes.  

sábado, 18 de agosto de 2012

Quem de dentro de si não sai.



[...]

- Posso eu ignorar meus pais, que por mim morreram há décadas em tamanhas tribulações?
- Teus pais são aqueles que te conceberam e te deram à luz, que te criaram em amor e harmonia. Se quiseres chamar de pais aqueles por pela tua liberdade morreram entendo, mas saiba que eles nem ao menos pensavam em ti.
- Quem exige mudança pensa nos dias que virão, não nos que já passaram.
- Então não exiges tanta mudança quanto acreditas. Culpas os que não partilham da tua fome por liberdade, e condenas os que já nem vivem sobre a mesma terra que tu.
- Não admito que me chames de hipócrita. Que fazes tu todos os dias andando sem rumo? Não me encantas mais com teu canto, ele apenas sobe aos céus, não move ninguém.
- Move meus próprios pés. Não mudarás nada enquanto quiseres mudar teu semelhante. Apenas o teu próprio coração tua mudança alcança. Menino, tuas atos falam mais do que tuas palavras carregadas de furor. Olha à tua volta, quantas vezes franzes tua testa olhando os corpos atirados pelas ruas, estejam eles vivos ou mortos? Quantas vezes lamentas a fome que corrói e mata nossas crianças? E que fazes além de lamentar, além de proclamar tamanha crueldade? Olhas apenas para o poder centralizado, que oprime e engole tudo que vê. Não percebes que em tua ânsia de justiça dás as costas a quem mais próximo de ti está, aqueles que tu podes realmente trazer de volta a vida. Não te julgues tão alto, não permitas que teus olhos apenas alcancem o trono, existe mais do que isso, quem ao teu lado vive e de tuas mãos precisa mais do que tuas palavras. Revolução não é uma revolta cega. Quem tem fome não consegue lutar.  



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Filho de flor


Desconheço o real propósito de minhas palavras que em teus ouvidos suplicam lugar.
Sei que em teu desamor julgaste-me desmerecedora de tua poesia, e em meu peito arde o desejo de a ti direcionar meus clamores.
Rogo-te que em algum de teus passos tu olhes para mim e percebas em meu andar torto e já recomposto tuas palavras, teus trejeitos.
Quero que fiques, que venhas e em mim te instales. Que em meu peito faças morada, que à beira de meu leito, observes meu sono e que nele, tu vivas claro, sonoro.
Quero que sob meus pés estejam os teus. Que dances comigo, que me apertes contra teus sentidos, que me segures e não me permitas dar-te as costas novamente.
Que me perdoes, e que teu perdão sirva de redenção aos meus pesares.
Se assim desejares.