sábado, 18 de agosto de 2012

Quem de dentro de si não sai.



[...]

- Posso eu ignorar meus pais, que por mim morreram há décadas em tamanhas tribulações?
- Teus pais são aqueles que te conceberam e te deram à luz, que te criaram em amor e harmonia. Se quiseres chamar de pais aqueles por pela tua liberdade morreram entendo, mas saiba que eles nem ao menos pensavam em ti.
- Quem exige mudança pensa nos dias que virão, não nos que já passaram.
- Então não exiges tanta mudança quanto acreditas. Culpas os que não partilham da tua fome por liberdade, e condenas os que já nem vivem sobre a mesma terra que tu.
- Não admito que me chames de hipócrita. Que fazes tu todos os dias andando sem rumo? Não me encantas mais com teu canto, ele apenas sobe aos céus, não move ninguém.
- Move meus próprios pés. Não mudarás nada enquanto quiseres mudar teu semelhante. Apenas o teu próprio coração tua mudança alcança. Menino, tuas atos falam mais do que tuas palavras carregadas de furor. Olha à tua volta, quantas vezes franzes tua testa olhando os corpos atirados pelas ruas, estejam eles vivos ou mortos? Quantas vezes lamentas a fome que corrói e mata nossas crianças? E que fazes além de lamentar, além de proclamar tamanha crueldade? Olhas apenas para o poder centralizado, que oprime e engole tudo que vê. Não percebes que em tua ânsia de justiça dás as costas a quem mais próximo de ti está, aqueles que tu podes realmente trazer de volta a vida. Não te julgues tão alto, não permitas que teus olhos apenas alcancem o trono, existe mais do que isso, quem ao teu lado vive e de tuas mãos precisa mais do que tuas palavras. Revolução não é uma revolta cega. Quem tem fome não consegue lutar.  



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Filho de flor


Desconheço o real propósito de minhas palavras que em teus ouvidos suplicam lugar.
Sei que em teu desamor julgaste-me desmerecedora de tua poesia, e em meu peito arde o desejo de a ti direcionar meus clamores.
Rogo-te que em algum de teus passos tu olhes para mim e percebas em meu andar torto e já recomposto tuas palavras, teus trejeitos.
Quero que fiques, que venhas e em mim te instales. Que em meu peito faças morada, que à beira de meu leito, observes meu sono e que nele, tu vivas claro, sonoro.
Quero que sob meus pés estejam os teus. Que dances comigo, que me apertes contra teus sentidos, que me segures e não me permitas dar-te as costas novamente.
Que me perdoes, e que teu perdão sirva de redenção aos meus pesares.
Se assim desejares. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Solis


[...]

- Desagrada-me teu desapego. 
- Desagrada-me a cor de teus olhos, mas ainda assim os possuis.  

Deixai que de minhas nódoas cuido eu!


Pelas esquinas que dobrei à tua espera.
Pelas noites que em claro ofuscavam meus dogmas.
Pelas chamas que te poderiam iluminar.
Pela areia das ampulhetas jogadas contra ti.
Pelos anjos que por entre teus dedos morreram.
Pelo espectro que todas as noites me observava.
Pela cor de teus olhos.
Pelas verdades cantadas por entre dentes.
Pela saudade que de ti eu anseio sentir.