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- Posso eu ignorar meus pais, que por mim morreram há décadas
em tamanhas tribulações?
- Teus pais são aqueles que te conceberam e te deram à luz,
que te criaram em amor e harmonia. Se quiseres chamar de pais aqueles por pela
tua liberdade morreram entendo, mas saiba que eles nem ao menos pensavam em ti.
- Quem exige mudança pensa nos dias que virão, não nos que já
passaram.
- Então não exiges tanta mudança quanto acreditas. Culpas os
que não partilham da tua fome por liberdade, e condenas os que já nem vivem sobre
a mesma terra que tu.
- Não admito que me chames de hipócrita. Que fazes tu todos
os dias andando sem rumo? Não me encantas mais com teu canto, ele apenas sobe
aos céus, não move ninguém.
- Move meus próprios pés. Não mudarás
nada enquanto quiseres mudar teu semelhante. Apenas o teu próprio coração tua
mudança alcança. Menino, tuas atos falam mais do que tuas palavras carregadas
de furor. Olha à tua volta, quantas vezes franzes tua testa olhando
os corpos atirados pelas ruas, estejam eles vivos ou mortos? Quantas vezes
lamentas a fome que corrói e mata nossas crianças? E que fazes além de lamentar,
além de proclamar tamanha crueldade? Olhas apenas para o poder centralizado,
que oprime e engole tudo que vê. Não percebes que em tua ânsia de justiça dás as
costas a quem mais próximo de ti está, aqueles que tu podes realmente trazer de
volta a vida. Não te julgues tão alto, não permitas que teus olhos apenas
alcancem o trono, existe mais do que isso, quem ao teu lado vive e de tuas mãos
precisa mais do que tuas palavras. Revolução não é uma revolta cega. Quem tem
fome não consegue lutar.